O Homem, o Café, e o Andarilho: a literatura de Eduardo Reghim
- Uiara Mei

- 28 de nov.
- 9 min de leitura
Por Uiara — Blog Narrativas Introspectivas

Se tem um nome que carrega o cheiro do café mineiro misturado com poesia, esse nome é Eduardo Reghim. Filho de Varginha, nascido em 13 de abril de 1976, ele cresceu embalado pelos aromas adocicados das Gerais — aquele café que a gente sente de longe e que parece contar histórias só pelo perfume. Antes de se tornar escritor, Eduardo foi, e continua sendo, um cafeicultor apaixonado, herdeiro de uma família italiana tradicional na arte de cultivar grãos. Mas, ao lado da lavoura, outra raiz cresceu forte: a literatura.
Não é difícil imaginar o menino Eduardo lendo com uma xícara de café ao lado, devorando palavras como quem busca sentidos escondidos no mundo. Inspirado por Renato Russo, Raul Seixas e pelas leituras escolares, ele foi percebendo que havia ali um talento latente — um lampejo criativo que só precisava de estímulo. O empurrão veio anos depois, em 2014, pelas mãos de duas mulheres essenciais em sua vida: Sheila, sua esposa, e Edivani, sua irmã. Elas foram as primeiras leitoras, primeiras críticas, primeiras torcedoras.
Sete anos depois desse incentivo, nasce sua obra de estreia: O Andarilho, publicado em 27 de julho de 2021 pela Editora Busca Sentido. Um romance dramático escrito em prosa poética — e aqui já dá para sentir o DNA de Eduardo: lirismo, profundidade e uma sensibilidade quase documental sobre a alma humana.
O que esperar de O Andarilho?

Encontros, rupturas, memórias e aquela linha tênue entre luz e sombra.
A sinopse já entrega a atmosfera: um encontro excêntrico que resgata memórias de uma era tão dourada quanto obscura. Uma relação improvável, costurada pelo destino e carregada de reviravoltas. Não espere estabilidade — aqui, a vida se impõe com suas artimanhas, criando um enredo onde a solidão é personagem ativa, quase soberana.
O Andarilho é, antes de tudo, um romance de dualidades. Luz e caos. Amor e perda. Destino e escolha. O humano em suas camadas mais frágeis e mais ferozes.
Stefano, o protagonista, é um personagem complexo — um caos ambulante em processo de resignificação. Ele tenta se reconstruir enquanto carrega o amor visceral por Mariane, memórias quebradas e um passado que insiste em bater à porta.
A narrativa mescla flashbacks com o presente, e Eduardo ousa brincar com o tempo. Essa técnica exige atenção, mas recompensa com profundidade e ritmo. A história caminhou comigo por dias, me puxando para reflexões particulares sobre perdão, recomeço e os caminhos tortuosos que a vida inventa para nos moldar.
Minha experiência com o livro
Não é leitura para devorar: é para degustar. Para sentir. Talvez como um bom café.
A prosa poética aqui é marcada por detalhes — daqueles que não dá para ler correndo. A ambientação mineira pulsa forte, trazendo um toque cultural delicioso. Quem ama café, como eu, vai se divertir com as referências sutis e com a sensação de estar sentado numa cozinha de Minas ouvindo alguém contar causos.
Também tive o privilégio de conversar com o autor diversas vezes — na entrevista escrita, no podcast e em uma live no TikTok. E posso dizer sem titubear: Eduardo é tão intenso quanto seus textos. Ele vive aquilo que escreve. Ele pensa o mundo pelo prisma da sensibilidade. E isso transborda nas páginas.
Não vou estragar sua experiência dando spoiler. Quero que você leia e tire as próprias conclusões. Mas deixo aqui uma provocação: prepare-se para revisitar partes suas que você talvez tenha deixado esquecidas pelo caminho.
A trajetória literária de Eduardo Reghim
Depois de O Andarilho, Eduardo não parou — pelo contrário, só expandiu horizontes:
2022: 2º lugar no concurso de poesias da Editora Leia Livros, que resultou no lançamento de Vozes da Alma — uma coletânea que disseca emoções humanas sem filtro.
2023: vencedor do concurso de prosa da mesma editora, com Contos de terror, mas nem tanto — uma mistura de horror cômico, lendas urbanas, mitos e crítica social, sempre com a pegada poética que já virou marca registrada.
E não para por aí. Eduardo já prepara novas obras:
O Andarilho: Era dos Bárbaros — Os Dias Esquecidos (realismo mágico)
A Má Fama de Edu (sarcasmo e crítica social escondida nas entrelinhas)
Fica claro: estamos diante de um autor versátil, inquieto, e que escreve com alma.
Por que ler O Andarilho? (E por que agora?)
Porque é um livro que abraça as sombras sem medo. Porque fala de recomeços de um jeito cru, bonito e profundamente humano. Porque nos lembra que todos somos andarilhos, procurando algo que talvez nem saibamos nomear. E porque Eduardo Reghim está construindo um legado literário sólido — com raízes fortes na terra, no afeto e na arte.
Quer conhecer mais?
Acesse também:
A entrevista escrita com o autor (abaixo)
O episódio do meu podcast Narrativas Introspectivas com Eduardo (ouça aqui!)
A live completa no TikTok (assista aqui!)
Adquira o livro aqui!
E claro: faça um favor a si mesmo — leia O Andarilho. Depois me conte o que essa jornada despertou em você.
Perguntas e respostas
Como a terra, o café e a ancestralidade italiana influenciam sua visão de mundo?
R. O contato com a Natureza lhe conecta com as vibrações do mundo; quando piso no solo sinto a energia do planeta e ela me acalma e também me deixa consciente em relação as dimensões do meu próprio corpo e até mesmo na facilidade de compreender o próximo, isso me auxilia muito a afastar o desejo de julgar a vida alheia.
Quando entro na mata, o ambiente muda instantaneamente, a conexão é mais profunda; observando os seres que ali vivem, percebo a complexidade da vida. Vejo que somos parte desse sistema e que precisamos nos equilibra com ele, não o enfrentar. É o que acontece quando estou na lavoura, observando as plantações. Este é o meu mundo; ele me pertence e eu a ele.
Venho de uma família que sempre lutou contra a adversidade e enfrentou seus desafios de cabeça erguida sem perder o amor pela vida. Pedro, meu avô, nome também do meu protagonista do próximo livro, perdeu quatro filhos, ficou viúvo, mas jamais perdeu o humor e a alegria de viver. Ele contava piadas no último dia de vida e sabia que iria partir, pois me revelou na visita que lhe fiz no leito do hospital. Tento levar essa resiliência pela vida.
Qual foi o maior desafio emocional ao escrever “O Andarilho”?
R. A sensação da perda. Sem duvidas foi isso, pois me veio a mente que tudo é tão transitório, o que é hoje, amanhã pode não ser mais. Existo agora, no próximo segundo sou apenas a lembrança de alguém. Isso é muito factual. O andarilho aborda muitas vezes a perda; seja da própria vida física, seja da vida espiritual, social e por aí vai. Por vezes meu coração se amiudava refletindo sobre toda essa transitoriedade. A trajetória turbulenta de Stefano, muitas das vezes pode ser a minha e a sua também. Talvez não percebamos, mas a perda é constante durante a vida.
O que a jornada do Stefano ensinou a você sobre si mesmo?
R. Que preciso ser mais paciente em relação aos momentos não tão favoráveis, que tudo pode se regenerar, se transformar, que a vida sempre dá uma nova oportunidade. Stefano teve a sua. Eu e você certamente teremos a nossa.
Nem a morte é definitiva, então, porque entregar os pontos já que a luta é eterna?
Como você enxerga a relação entre solidão e criação?
R. Crucial. Simplesmente isso. Acordo sempre de madrugada, por volta das quatro da manhã, é meu momento de maior inspiração e conexão. Somos eu, o computador, a xicara fumegante de café e o silêncio total. É justamente o momento das grandes ideias de minhas obras. É bom dizer que nem sempre escrevo neste horário, mas invariavelmente reflito sobre o que escrevo nessa parte do dia.
O que o leitor não percebe à primeira vista, mas é o coração da obra?
R. Boa pergunta, talvez ele não perceba a princípio de que se trata de uma obra reflexiva e com uma grande reviravolta, mesmo que haja sinais disso desde o princípio.
Cenários como: praia, festa junina, atmosfera rural, romance, e um Stefano extrovertido, o levem a imaginar que a história se concentra em um enredo romântico com passagens lúdicas. Entretanto, com o desenrolar da trama, perceberá que há mistérios nebulosos e impactantes, os quais irão lhe surpreender ao extremo, tanto no quesito reflexão, quanto nas reviravoltas que o livro apresenta. Um detalhe inocente da obra, a vida, como sendo personagem, conta a Stefano sua própria história. Ao final da obra você percebe que a história foi a lembrança condensada na fração de tempo de um ou dois minutos.
Como você enxerga a evolução da sua escrita entre O Andarilho, Vozes da Alma e Contos de terror, mas nem tanto?
R. O andarilho e o Vozes nasceram juntos, quase irmãos siameses, pois há elementos de ambos num e noutro. O andarilho possui poemas do vozes, o vozes em diversos momentos possui o introspectivo de Stefano, aliás, um inspirou o outro. O vozes da alma nasceu antes, apesar de ter sido finalizado e publicado depois de O andarilho. Ele é fruto de poesias escritas ainda na minha adolescência, misturada com poesias feitas no seu ano de conclusão e toda essa atmosfera poética criou o enredo de O andarilho.
Já o Contos de terror, mas nem tanto, é fruto de minha expansão literário, diria que é meu big bang literário. Mesmo que ainda utilizando minha veia poética, o contos explora o meu lado sombrio da literatura, aliás, é bom dizer que o gênero traz, ou provoca reflexões profundas também, não se limita a um mero entretenimento, ou só deseja causar medo; não, vai muito além, pois aborda situações cotidianas e o quanto uma simples atividade pode se tornar caótica, convenhamos que isso não é tão ficcional assim. No entanto, a expansão prossegue, me descobri cronista recentemente, posto semanalmente na página do Facebook Liga dos sete e agora parto para uma escrita mais irônica, sarcástica no livro ainda em andamento “A má fama de Edu”. Não sei dizer até onde essa expansão irá, mas estou curtindo a viagem.
Qual é a sua visão sobre literatura como instrumento de cura?
R. Acredito que toda leitura tem esse poder, independente de qual gênero ou seguimento seja; pois a priori, quando uma pessoa lê, ela está exercitando seu cérebro, ativando sua capacidade de percepção, concentração e principalmente imaginação, afinal a leitura cria imagens na mente do leitor, além de lhe dar visões distintas de mundo. O cérebro, como qualquer outra parte do corpo necessita de exercícios, caso contrário atrofia.
Acho bom relatar, a fim de reforçar o poder de cura da literatura que no período pandêmico foi fundamental. A escrita e leitura foram essenciais para acalmar a ansiedade de muitos, foi uma época de explosão literária, culminando no surgimento de inúmeros autores, - eu mesmo surgi nesse período - e consequentemente um aumento exponencial na quantidade de leitores. Creio que esse fenômeno livrou muita gente de uma depressão profunda, salvando incontáveis vidas. Eu ainda hoje recorro tanto a escrita, quanto á leitura nos momentos em que me vejo ansioso, sempre deu certo.
O que podemos esperar da estética e atmosfera dos próximos romances?
R. A poesia sempre estará presente, assim como cenários rurais ou de natureza, afinal isso é intrínseco na minha personalidade. Haverá obras com menos ou mais poesia, mas sempre terá poesia, só para reforçar.
Nas três obras que estou escrevendo atualmente, algo que também fará parte da estética, a exemplo do que foi em O andarilho é a questão de memórias, as obras irão transitar entre o passado e o presente; já em O andarilho/era dos bárbaros- tempos esquecidos, iremos também ao futuro, esse será o ponto fora da curva.
Em A má fama de Edu, vamos imergir no mundo das fofocas, mesmo sendo uma escrita mais sarcástica, iremos refletir muito sobre como a fofoca pode impactar vidas.
Já em O perfume de Lilith, vamos explorar o impacto da sexualidade, do prazer e do erotismo no cotidiano e na construção da sociedade.
Como você define o seu lugar na literatura brasileira atual?
R. A exemplo de um mundo de colegas, sou a representação do talento literário brasileiro. Mas precisamos evidenciar isso para termos o devido reconhecimento, creio muito que vamos conseguir, afinal, a literatura brasileira é muito rica e merece um lugar de destaque.
Qual é a importância do marketing literário na carreira do escritor?
R. Crucial. Sem isso, como é que vamos nos mostrar, quem é que vai se interessar? Preciso escrever e mostrar que escrevo e que escrevo muito bem. Deixando claro que isso não é arrogância, apenas consciência de um talento. O leitor nacional precisa descobrir que seus autores são ótimos e cabe a nós escritores evidenciar isso e o marketing literário esta aí para ajudar e apoiar.
Mas precisamos ter noção de que não é uma coisa simples; quando faço anúncio de uma pasta de dente, eu digo dois ou três atributos e pronto, está feito. Mas quando vou anunciar o livro, revelo muito mais atributos, ali tem o autor e sua vida, os sentimentos que originaram a obra, o porque dela existir e o que ela pretende, o que muitas vezes não se resume a um único trecho, ou resposta.
Para finalizar quero combater um tabu “Ah o brasil lê pouco, apenas 27% da população leem ativamente mais que um livro por ano”. De fato, em porcentagem é baixo, mas em números não, 27% de 213 milhões, são 57 milhões de pessoas, dez vezes a população da Noruega, que é o país mais leitor da atualidade e maior que toda a população argentina que é o país latino mais leitor. Então, ainda que num percentual baixo, o nosso mercado literário é gigante. Estamos para literatura, como o café está para a China. Se no país asiático, o consumo do café, nos próximos anos aumentar em 30 % do que é hoje, não haverá produto suficiente no mercado para atender a demanda. Imaginem o mesmo ocorrer por aqui na literatura. Temos ou não, mercado? Bora conquistar nosso lugar aí.
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